Medidas de pevides

Medidas
madeira
Nazaré, meados séc. XX
MDJM inv. 1256 e 1782






As “medidas” são recipientes quadrangulares utilizados na venda de cereais, sementes ou legumes secos. Cada “medida”, de dimensões diferenciadas, corresponde a determinado peso e preço do produto.


No âmbito dos estágios realizados no Museu Dr. Joaquim Manso durante o mês de Junho, três alunas da Escola Profissional da Nazaré, Ana Rita Esperança e Fabiana Cruz (do Curso Técnico de Organização de Eventos) com a ajuda da Iara Valnove (do Curso Técnico de Turismo), dedicaram-se ao estudo da actividade comercial das conhecidas "Pevideiras" ou "Senhoras das Pevides" do Terreiro, junto ao Santuário de Nossa Senhora da Nazaré e do Museu.
Entrevistaram Albertina Polaco, Carolina Figueira, Filomena Saldanha, Isabel Anastácio Matias, Maria da Conceição Canhoto e Maria Luísa e concluíram que, entre os produtos mais vendidos, se contam os tremoços e as pevides, assim como os percebes, comercializados actualmente por sete mulheres de diversas idades. O pinhão é o artigo mais caro e, entre os mais baratos, destacam-se os tremoços.
A venda efectua-se recorrendo às “medidas”, de várias capacidades, que são objecto regular de fiscalização. À Confraria de Nossa Senhora da Nazaré pertence a responsabilidade de controlar e conceder os locais de venda.

Em tempos, chegaram a ser quase duas dezenas. Apesar de gostarem muito da sua profissão, sabem que não terão sucessoras, pelo menos entre os familiares. Trabalham aqui desde crianças, todo o ano e praticamente todos os dias. Maria da Conceição Canhoto lembra: “Eu vendia percebes, perdia a escola e comecei aqui a vender. Já vem dos meus pais”.

Na sua origem, a tradição destas vendedoras – hoje, uma imagem de “marca” para quem pára junto à Ermida da Memória – reside na animação popular em torno das práticas religiosas. A importância que o Santuário e o culto mariano sempre tiveram no desenvolvimento deste núcleo populacional do concelho da Nazaré demonstra bem que “o Sítio vivia para o seu Santuário, com o seu Santuário e do seu Santuário” (Granada, 1996).

Já desde o séc. XVII, a Confraria procurou fomentar a prática comercial junto ao Santuário “arrecadando dividendos com o aluguer de terrados” (Penteado, 1998), embora se verificassem alguns conflitos entre o profano e o sagrado, como refere o manuscrito de Almeida Salazar: “Esta mercantilização nas proximidades do espaço sagrado não agradava ao meirinho do Arcebispado que, já em 1623, fazia ‘vexações aos romeiros que vão a esa hermida empedindo-lhes que não comprem nos Dominguos e Dias Santtos, e no dia da Senhora, mantimentos aos vendeiros para comerem e se irem depois de ouvir miça’, ameaçando os comerciantes, possivelmente, com penas espirituais. Contudo, os vendedores possuíam o apoio da Coroa, que prontamente condenou a intervenção daquele oficial episcopal”.

Venceu o profano e o Santuário tornou-se, cada vez mais, um espaço permissivo a trocas mercantis, onde eram diversos os produtos vendidos: alimentos, produtos de luxo, mas também bens de salvação, de protecção dos devotos e de memorização do culto.

É nas épocas de maior fluxo turístico e religioso, como as Festas de Nossa Senhora da Nazaré (8 Setembro), os Círios e, actualmente, os fins-de-semana e o Verão, que se regista um maior número de compradores, conferindo uma animação diferente ao Terreiro, misturando-se vários tipos de populações e culturas.

Esta meia dúzia de nazarenas que continua diariamente no Terreiro, nos seus postos de venda improvisados, e faz uso do colorido do traje tradicional, consegue comunicar com todas essas gentes que visitam a Nazaré. Querem vender as suas pevides, mas, sobretudo, elas contribuem para levar a vivacidade da “mulher nazarena” a todas as partes do mundo. São, por isso, parte da memória e identidade local…

Ler excerto das entrevistas realizadas pelas alunas:
Albertina Polaco, Carolina Figueira, Filomena Saldanha, Isabel Anastácio Matias, Maria da Conceição Canhoto e Maria Luísa.




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