Gamela ou celha de aparelho



Gamela ou celha de aparelho
madeira e cortiça
39 cm (diâmetro) x 15 cm (altura)
oferta de António Figueira Sales, 1976
MDJM inv. 816 Etn.


A pesca é um fator identitário da Nazaré, concorrendo para a coesão desta comunidade. Pescadores, barcos e artes de pesca fazem parte de um quotidiano de trabalho, quantas vezes de luta e sofrimento.

Entre as artes de pesca artesanal, destaca-se este mês o aparelho destinado à pesca do alto e captura do chamado peixe grosso, tendo como pretexto um dos objetos da coleção do Museu – uma gamela ou celha de aparelho, um recipiente de forma circular, de base mais estreita e rebordo de cortiça pregada à madeira, onde se espetam os anzóis das linhas do aparelho.

Os anzóis eram arrumados em “talas” e transportados dentro da celha. 
 
Esta celha, que apresenta a sigla “AFS” foi doada em 1976 por António Figueira Sales, pescador do alto e proprietário da embarcação com o registo N 1659 L, com o nome “Santo Onofre”.

Cita-se, a este propósito, o escritor Alves Redol numa passagem do seu livro inspirado na Nazaré ("Uma Fenda na Muralha"):
“Os homens iscam o aparelho. Tiram as sardinhas dos gigos, cortam-nas ao meio e cravam-nas nos anzóis. Levam vinte e duas celhas, cada celha duzentos e cinquenta anzóis e tudo há de ficar pronto até chegarem ao Mar que o arrais escolheu; “se o Mar deixar” pensam todos os homens da companha (...)
Os aladores, em ritmo certo puxam as linhas, vai a mão esquerda, vai a mão direita, bem trazida até aos ombros, provocando alguns ferimentos, apesar da utilização de nepas de borracha, para proteção dos dedos.
A linha é rija, o anzol é de aço, a poita está no fundo do Mar e a cabaça pintada de vermelho e branco parece um pássaro irrequieto". 


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