Cabaz de peixe











Cabaz de peixe
Pertenceu a João de Deus Estrelinha,
proprietário da traineira “Estrelinha”
Oferta de Emílio Vasco, 2000
MDJM inv. 2091 Etn.


Cesto utilizado pelas cabazeiras, no transporte de pescado desde a traineira “Estrelinha” até à lota.
A letra “E” pintada a preto identifica o seu proprietário, o pescador João de Deus Estrelinha, assim como as manchas vermelhas (a sua cor) pintadas nas faces mais estreitas. No interior, ainda apresenta vestígios de escamas de peixe.

Ser cabazeira era um dos trabalhos mais árduos para a mulher da Nazaré. A sua função era fazer chegar o pescado do barco à lota.
Para esta actividade, as mulheres inscreviam-se na Capitania do Porto da Nazaré, que lhes atribuía uma cédula com o respectivo número.

As cabazeiras começavam a tomar lugar no areal da praia, logo pela noite, chegando a passar aí grande parte do seu sono, não só para estarem presentes a qualquer hora de chegada das embarcações do mar, mas também para terem vantagem na fila de espera e serem as primeiras a serem chamadas para o transporte de cabazes.
Para a organização do trabalho, havia a “mestra”. Há memória da Rosa Lourenço Antunes, vulgarmente designada por "Rosa da Galeana", e conhecida pelo seu espírito de disciplina e liderança.

O trabalho desenvolvia-se do seguinte modo: quando as embarcações chegavam "à bord' àgua", eram puxadas pelos bois (posteriormente, pelos tractores) para "o topo" (areal). Aí, os "homens da redada" (companheiros do barco com essa função) davam sinal e iniciava-se o transporte do pescado. 
Então as mulheres, sob orientação da “mestra”, em fila indiana, carregavam à cabeça geralmente dois cabazes de cada vez (cada cabaz equivalia a 20 Kg) e, em passo apressado, muitas vezes de corrida, levavam o peixe para a lota. Depois, regressavam novamente, tomando o último lugar da fila, para novo transporte. Quantos mais cabazes transportassem, mais ganhavam.
A cada cabaz transportado correspondia uma senha identificativa da embarcação, do respectivo proprietário, com indicação da quantia referente à condução do peixe.
O pagamento às cabazeiras era efectuado na taberna indicada pelo proprietário da embarcação. Por sua vez, a “mestra” não tinha uma remuneração definida e nunca acartava. A sua compensação económica resultava do transporte de cabazes que cada cabazeira, de tantos em tantos cabazes, tinha que carregar para ela. 
Os cabazes eram feitos de compridas e largas tiras entrelaçadas, com cerca de 38x30x27cm, e duas asas feitas de corda que se ligavam ao interior do cabaz através de grossos nós. Tinham pintadas as letras iniciais da embarcação a que pertenciam.

Este sistema de condução de pescado para a lota deu lugar ao transporte em carrinhas. Actualmente, segue-se o sistema moderno da descarga do peixe no Porto de Abrigo da Nazaré e respectiva venda na lota.

O trabalho das cabazeiras inspirou vários artistas, não só na fotografia, como Artur Pastor, como também na literatura, como Alves Redol (ler).

Celeste Vasco da Silva é uma das muitas cabazeiras que animavam o areal da Praia da Nazaré até aos anos 1970, e cujo nome encontramos entre os registos da Capitania, na época obrigatório. As suas memórias estão também patentes nesta exposição do Objecto do Mês, no Museu Dr. Joaquim Manso.

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