Avental de Festa


Avental de Festa, 1936
alt. 73 cm; larg. 115cm
Cetim fulgurante
Doação da autora, Celeste Lúcio dos Santos, 1974
MDJM inv. 248 Etn.


Na Nazaré, por altura da Páscoa, sempre foi com orgulho que se vestiu o “traje de festa”. Como peça fundamental do traje feminino, emprestando-lhe cor e riqueza, para esta época as mulheres reservavam os seus melhores aventais, que exibiam com certa vaidade, muitas vezes bordados à mão pelas próprias.
É exemplo deste avental, que pertenceu a Celeste Lúcio dos Santos (1902-1997), natural do Sítio da Nazaré. À semelhança de tantas outras jovens nazarenas, dedicou-se à costura desde nova, mas eram os bordados que mais a atraíam. “Sabia quase todos os pontos à mão”.
Ensinou à filha, Maria Celeste Lúcio de Oliveira Marques, tudo o que sabia. Ao lado da mãe, ainda rapariga, também ela começou a bordar os aventais, o que ainda hoje faz por encomenda.
Os clientes eram muitos: mulheres que pediam aventais para quando os maridos chegassem da pesca do bacalhau (em Outubro), outras para as Festas de N. Sra. da Nazaré (8 Setembro), ou para o Natal. Estas eram as datas de maior trabalho.



Celeste Lúcio dos Santos
Quando estavam apenas dedicadas a essa tarefa, demoravam cerca de uma semana a bordar um avental, que, nos anos 1920/30, custava cerca de 60$00. Hoje, pode custar cerca de € 500.
Com a emigração, surgiu outra oportunidade de negócio e trabalharam para um empresário nazareno que fornecia trajes para a comunidade portuguesa fixada em França e no Canadá.

Na sua versão de trabalho, o avental apresenta-se com riscas e cores mais escuras. Mas, em momentos de festa, é no avental que se coloca a maior exuberância decorativa e cromática. O tecido é substituído por outro de melhor qualidade – seda ou merino fino –, e os pontos multiplicam-se, consoante a criatividade e habilidade da sua autora (o ponto cruz é o mais vulgar). Surgem frutos, folhas de videira ou borboletas, mas mais comuns são os motivos florais, delimitando o avental ou, por vezes, preenchendo quase por completo toda a sua frente.
No estudo realizado por Abílio de Mattos e Silva (O Traje da Nazaré), “o avental mais belo era o de recortes e bordados a matiz! No tamanho e forma, semelhante aos outros, mas a confecção trabalhosa. Terminava com recortes bordados, largos e fundos, que eram ainda rematados com recortes, simples e pequenos”.
Seguindo o mesmo autor, quanto à sua dimensão, quer de trabalho ou festa, eram em “ambos os casos bastante grandes, acompanhando a saia lateralmente e no comprimento, ou cobrindo-a ou deixando ver uma orlazinha”. À época (anos 1930), eram confeccionados em duas alturas de pano inteiro. Mas, à medida que as saias vão subindo, seguindo a moda feminina, passam de dois para um folho, de confecção mais simples.
Normalmente, o cós é uma tira que se prolonga nas fitas que o prendem atrás, em forma de grande laço, com pontas caídas, onde não são igualmente descurados os elementos decorativos.

Em 1936, Celeste Lúcio dos Santos bordou este avental rematado a toda volta por motivos florais bordados a "richelieu", que ficou em 2.º lugar num concurso em Portalegre em 1937.Os concursos tornam-se frequentes nas décadas seguintes. Nos anos 1950-60, nomeadamente no mês de Abril, na altura da Páscoa (“Avril au Portugal”), promoviam-se na Nazaré “concursos de traje”, sempre muito concorridos e com ampla projecção turística. 

Cada vez mais substituído pelo trabalho à máquina, ainda é vulgar encontrar a mulher ostentando o “avental de festa” durante a Páscoa, quando a Nazaré se enche de animação na rua e turistas.

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