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Stuart Carvalhais (1887–1961)
Sem título, s.d
Tinta-da-China
MDJM inv. 100 Des.
Trabalho a tinta-da-China, onde um bando de perús é encaminhado por um homem com uma vara, num dirigismo satirizado.
A arte da sátira gráfica desenvolve-se na Europa a partir dos finais do século XVIII. Em Portugal, regista-se um incremento deste tipo de crítica com o liberalismo, no século XIX.
Neste mundo de irreverência e humorismo, onde há uma convivência entre o riso, a sátira e a caricatura, destaca-se, entre outros, Stuart Carvalhais, autor de figuras e tiras de banda desenhada como “Quim e Manecas”, a série mais longa com cerca de 500 episódios (entre 1915 e 1953), cujo conteúdo é enriquecido através de uma ponte com a realidade social e política do país.
Stuart Carvalhais, com Christiano Cruz, Almada Negreiros e Jorge Barradas, entre outros, fundaram também a sociedade de humoristas “vid'airada” e o jornal “Sátira” (1911).
José Herculano Stuart Torrie de Almeida Carvalhais, mais conhecido por Stuart Carvalhais, filho de pai português e mãe inglesa, nasceu na zona do Douro.
Artista multifacetado, distinguiu-se como pintor, desenhador, ilustrador, caricaturista e autor de banda desenhada, dedicando-se também à fotografia, cenografia e cinema.
Viveu a sua primeira experiência nos jornais como repórter fotográfico. É n' “O Século” que publica os primeiros desenhos, em 1906, iniciando o trabalho de banda desenhada no ano seguinte.
Vivendo em Paris em 1912 – 1913, integra também neste período a I e a II Exposição dos Humoristas Portugueses.
Em 1914, colaborou no jornal satírico “Papagaio Real”, então sob a direção de Almada Negreiros.
Casado com a varina Fausta Moreira, de quem teve um filho, Raul Carvalhais.
Joaquim Manso (1878-1956), patrono deste Museu instalado na sua moradia de veraneio na Nazaré, era próximo destes artistas portugueses, sendo as páginas do jornal que dirigia - “Diário de Lisboa” - o suporte para divulgação de muitas das suas iniciativas e ideias.
É através da sua coleção, por doação do filho Pedro Manso Lefèvre em 1977, que este trabalho de Stuart de Carvalhais vem integrar o espólio do Museu da Nazaré, a par de outros trabalhos, deste e de outros artistas desta geração.
Consulte este desenho no MatrizNet.
Roberto Araújo (1909 – 1969)
Sem título, s.d.
Tinta da china sobre papel
Oferta de Pedro Manso Lefévre, 1977
MDJM inv. 99 Des.
No mês em que se comemoram os 40 anos da “Revolução dos Cravos”, ocorrida a 25 de abril de 1974, o Museu Dr. Joaquim Manso seleciona do seu espólio, como “Objeto do mês de abril”, um emblemático desenho de Roberto Araújo.
Pintor e ilustrador, aluno da Escola de Belas Artes de Lisboa e de cenografia no Conservatório Nacional de Teatro, Ricardo Araújo foi autor de cenários e decorações para várias companhias de teatro e filmes, como “O Pai Tirano” e o “Pátio das Cantigas”, depois de se ter iniciado com a peça “Divórcio”, de Ilda Stichini, em 1933.
Em 1934, ganha o 1º Prémio de Ilustração num concurso da Junta de Educação Nacional e, como bolseiro, visita Espanha, Bélgica e Alemanha. Foi professor na Escola de Artes Decorativas António Arroio.
Casa-se em 1931, pelo registo civil, com a filha de César Porto, Manuela Porto (1912-1950), colaboradora do jornal “Diário de Lisboa” (fundado por Joaquim Manso).
Herdeiro dos pais, Araújo Pereira e Emília de Araújo Pereira, da crítica oposição à situação política e cultural vigente, teve uma postura ativa contra o regime de Salazar, sendo muitas das suas obras protestos contra as medidas tomadas pela ditadura.
Ainda que se desconheça a justificação inicial da sua produção, destinando-se porventura a um fim ilustrativo ou cenográfico, o desenho agora em destaque aproxima-se deste intento de protesto pela conjuntura política em que Portugal se encontrava, evocando um grito de revolta e tentativa de libertação, que nos remete ainda para a célebre pintura de Eugène Delacroix, “A Liberdade Guiando o Povo” (1930), inspiradora da consequente iconografia republicana de vários países, incluindo da portuguesa.
Desenvolvido em composição triangular, constituída por quatro elementos femininos, uma figura central em segundo plano está de pé, usando barrete republicano e direcionando a cabeça para o lado esquerdo. À sua frente, apoia-se outra figura feminina, com um dos seios descobertos, de braços erguidos ao alto, com uma algema em cada punho. Em plano inferior e ladeando as figuras centrais, estão duas figuras sentadas, que olham para cima. A da esquerda ostenta uma espada com ambas as mãos.
Do círculo de convívio de Roberto Araújo faziam parte Almada Negreiros, Thomaz deMello, Abel Manta, Sena da Silva, entre outros. Recordemos que a esposa foi colaboradora do “Diário de Lisboa” e seriam também próximos do jornalista Joaquim Manso. É através do filho deste, Pedro Manso Lefèvre, que este trabalho é doado em 1977 a este Museu, de que o escritor é patrono, por ter sido na sua residência de veraneio que se viria a instalar o tão ansiado Museu da Nazaré.