Sem título, 1933
Tinta-da-china sobre papel
ass. e dat.: almada / 33
Doação de Pedro Manso Lefèvre, 1977
MDJM inv. 101 Des.
O percurso de José de Almada Negreiros cruza-se diversas vezes com a Nazaré, na sua abordagem a temáticas piscatórias e religiosas. Entre os frescos pintados para a Gare Marítima de Alcântara (1943-1945), em Lisboa, Almada dedica um painel a “D. Fuas Roupinho, 1º Almirante da Esquadra do Tejo”. No plano superior, a iconografia do milagre de Nossa Senhora da Nazaré patenteia a eleição e alcance identitário deste culto mariano, na sua articulação com os mares e os pescadores, estes últimos representados no plano inferior, na labuta ou no descanso da faina.
Anos antes, Almada realizara a capa do programa da primeira “Festa do Mar” na Nazaré, a 10 de setembro de 1939. O evento contou também com a participação do pintor Guilherme Filipe e dos escritores Hipólito Raposo, Afonso Lopes Vieira e Joaquim Manso.
A ligação com este último, expressou-se por uma profícua relação profissional que estreitava a amizade entre ambos. Em 1921, Joaquim Manso (1878-1956) funda o “Diário de Lisboa” que, no meio da imprensa da época, constituiu um veículo privilegiado de divulgação e debate de ideias e de autores modernistas. Desde o primeiro número, Almada Negreiros colabora assiduamente neste periódico. São também de Almada as ilustrações para as seguintes publicações de Joaquim Manso: “Fábulas” (1936) e “O Pórtico e a Nave” (1943).
No desenho da colecção deste Museu, dentro do seu habitual trabalho gráfico, em traços sintéticos, Almada Negreiros define um grupo de pessoas numa embarcação a remos, num enquadramento a partir do alto mar. Uma criança, debruçada sobre o bordo da embarcação, apanha um peixe com a mão. Em segundo plano, à distância, pressente-se o ponto de partida num conjunto paisagístico sumário, constituído por casario, igreja e farol.
Sobre este trabalho doado ao Museu da Nazaré em 1977, pelo filho de Joaquim Manso, não se conhece o motivo da sua realização ou a razão específica pela qual integrou a colecção do jornalista, que construíra uma casa de veraneio nesta vila piscatória e balnear, posteriormente doada ao Estado pelo seu amigo e construtor civil Amadeu Gaudêncio, para aqui se instalar um Museu Etnográfico e Arqueológico da Nazaré.
No entanto, sendo ou não sobre a Nazaré, neste pequeno desenho encontramos o MAR. O mar enquanto viagem, ponto de encontros e de fugas, de chegadas e partidas…
Álvaro Laborinho, Festa do Homem do Mar, 1939
MDJM inv. 1933 Fot.
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Álvaro Laborinho, Festa do Homem do Mar, 1939
MDJM inv. 1935 Fot.
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Programa da Primeira "Festa do Mar", 1939
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Em exposição, do espólio do Museu, estão igualmente edições de Joaquim Manso ilustradas por Almada Negreiros e correspondência entre ambos datada de finais dos anos 1920 / 1930 e de 1943.
Com a colaboração da Biblioteca da Nazaré, inclui-se ainda um desdobrável original do programa “Festa do Mar” de 1939.
Mais fotografias de Álvaro Laborinho sobre a "Festa do Mar", no MatrizNet.