Nossa Senhora da Conceição





















Nossa Senhora da Conceição
barro policromado
fins do séc. XVII – 1º quartel séc. XVIII
alt. 28,5 cm
Doação de Noémia Garcia Calixto, 1988
MDJM Inv. 38 Esc.


No mês em que se celebra a Natividade, o Museu da Nazaré evoca a quadra natalícia através de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, também assim assinalando a Festa da Imaculada Conceição (8 de dezembro).

Em barro policromado, trata-se de uma representação tradicional dentro da iconografia mariana desta invocação, representando a Virgem coroada, de mãos postas em oração à altura do peito, envolta por manto esvoaçante ao gosto barroco. Apresenta-se sobre a Lua em quarto crescente e o Globo, envolto por serpente, onde se distribuem três querubins alados.

As representações da Imaculada Conceição traduzem a visão de Maria como a “nova Eva” que esmaga a serpente, símbolo da tentação e do pecado original. Maria desce do Céu sobre a Terra para resgatar o pecado de Eva. Como Regina Coeli (Rainha do Céu) e Virgem Imaculada, apresenta-se coroada, de cabelo solto, com pés assentes sobre o crescente lunar, símbolo tomado do Apocalipse de São João: “Depois apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de Sol, tendo a Lua debaixo de seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça” (Apocalipse. 12,1).

Embora fosse uma tradição muito seguida desde há vários séculos, só a 8 de dezembro de 1854 o papa Pio IX declarou solenemente o dogma da Imaculada Conceição, dogma católico da conceção da Virgem Maria sem “mancha” do pecado original.

Em Portugal, a veneração à Imaculada Conceição conhece grande incremento no século XVII, quando o rei D. João IV proclama Nossa Senhora da Conceição como Padroeira do restaurado Reino de Portugal e a consagra como Rainha (1646). Desde então, nenhum rei português voltou a ostentar a coroa nas suas representações. Generalizaram-se por todo o país as imagens desta invocação, contribuindo para a consolidação de uma devoção que, apesar do seu carácter oficial, encontrou grande eco no espírito popular.

Esta imagem foi doada ao Museu Dr. Joaquim Manso por Noémia Tito Calixto, em 1988, sendo proveniente da Confraria de Nossa Senhora do Rosário, da Igreja de Nossa Senhora das Areias, na Pederneira

Sarcófago Romano




Sarcófago

Pedra calcária
Baixo-Império Romano
alt. 51 x larg. 59 x comp. 194 cm
MDJM inv. 1 Arq.

Em novembro, mês que se inicia pelo Dia de Todos os Santos seguido pela celebração do Dia dos Fiéis Defuntos, o Museu Dr. Joaquim Manso evoca o Culto dos Mortos, destacando um sarcófago do Baixo Império Romano, encontrado em Famalicão da Nazaré, e que se encontra em exposição numa das suas salas.

Trata-se de uma urna funerária de forma rectangular e em pedra calcária, lisa e sem decoração, apresentando apenas um pequeno orifício, possivelmente resultante de posterior reutilização para outros fins.
Internamente, observa-se a cabeceira de dimensão mais larga que a extremidade oposta, oscilando respetivamente entre os 44 cm e os 38,5 cm.

Integrando o acervo do Museu Dr. Joaquim Manso – Museu da Nazaré, por cedência do Museu Nacional de Arqueologia, este sarcófago testemunha a presença romana na região onde se insere o atual concelho da Nazaré, a par de outros pequenos objetos utilitários e decorativos, que se encontram igualmente expostos no Museu, a merecerem a sua visita.

Outro sarcófago romano a merecer cuidada atenção, mas desta vez pela sua beleza ímpar, é o conhecido “Sarcófago das Musas”, encontrado em Valado dos Frades / Nazaré e patente ao público no Museu Arqueológico do Carmo, em Lisboa.

Saiba mais sobre este sarcófago em MatrizNet.



Cerco Republicano

Cerco Republicano
Galeão e duas barcas auxiliares (miniatura)
Tipo de pesca: Pesca com rede de cerco americano
Fabricante da miniatura: Policarpo Vicente Isaac, 1980
MDJM inv. 1091 Etn


A miniatura reproduz o Galeão N 672 G, registado a 23 setembro 1913 e abatido em 1929. Era propriedade da “Sociedade Cerco Liberal” e destinava-se a serviço de pesca com “cerco americano”.

Tinha de comp. 10 m; boca 3,30 m; pontal 1,10 m e T.B. 8,712 t.

No período que antecedeu o 5 de Outubro de 1910 e durante a I República, alguns barcos registados na Capitania do Porto da Nazaré revelam a ideologia republicana dos seus proprietários, de que é exemplo este galeão pertencente ao “Cerco Liberal”, também conhecido por “Cerco Republicano” ou “Papa Charutos”. Outros exemplos:

Duarte Pacheco – Batel das armações valencianas N 474 V, registado a 14 maio 1906, propriedade de “Rosa e Comandita”. Em 21 maio 1912, passou a pertencer a Cândido Rodrigues e C.ª (filhos).

Bernardino Machado e Guerra Junqueiro – Barcas de cerco americano, registadas a 21 setembro 1908, ao serviço do Cerco Americano “Igualdade” – Álvaro, Ascenso, Vidinha e Comp.ª.

António José d’Almeida – Barca de cerco americano, registada a 15 novembro 1908, ao serviço do Cerco Americano de Álvaro, Ascenso, Vidinha e Comp.ª.

Pinheiro Chagas – Batel das armações valencianas N 696 V, registado a 18 maio 1914. Propriedade “Parceria Fraternidade”.

República – Galeão de cerco americano N 711 G, registado a 17 setembro 1914. Propriedade da Firma Santos Amaral e C.ª. Destina-se ao serviço de pesca com o cerco americano “Alexandre”.

Na Nazaré, a primeira bandeira republicana regista-se em dezembro de 1910, por oferta de Alfredo Santos, sócio da fábrica de conservas “Alfredo Santos & Bravo”.

Mais informação sobre a implantação de República na Nazaré (aqui).

Tábua de Milagre

















Tábua de Milagre
Trabalho popular de autor desconhecido, 1776
Óleo sobre madeira, 22,2x31 cm
Doação de Noémia Garcia Calixto, 1982
MDJM inv. 171 Pint.


Em tempo de devoção ditado pelas Festas em Honra de Nossa Senhora da Nazaré que, em setembro, decorrem nesta vila de pescadores, o Museu Dr. Joaquim Manso – Museu da Nazaré evoca o culto mariano aqui prestado há vários séculos através de uma tradicional “tábua de milagre”.

Trata-se de um ex-voto, trabalho popular e de devoção, de autor desconhecido, invocando o agradecimento de Dona Rosa a Nossa Senhora da Nazaré por a ter salvo de um parto doloroso, como diz a legenda nele inscrita:

“Milagre que fes Nossa Senhora da Nazareth don/na Roza que estando mui mal de hum parto [...]”.

Consulte mais informação sobre esta obra no MatrizNet (clique)

Painel de azulejos




















Painel de azulejos
Fábrica Battistini de Maria de Portugal, s.d. (final anos 1930-40?)


Em agosto, destacamos um elemento decorativo integrante do edifício do Museu Dr. Joaquim Manso e que relembra a sua função inicial como moradia particular, ao mesmo tempo que remete para uma tradição local de colocar na fachada registos alusivos ao Milagre de Nossa Senhora da Nazaré, do Senhor dos Passos, outras evocações religiosas e marítimas.

No exterior do edifício do Museu Dr. Joaquim Manso, no terraço adornado de colunas e pérgola, à esquerda da primitiva porta de acesso à moradia, está patente um painel de azulejo, azul e branco com apontamentos a amarelo, verde e castanho na decoração floral.
Envolta por moldura de concheados, recuperando a tradição azulejar portuguesa do século XVIII, surge uma representação de Nossa Senhora da Nazaré, sobre paisagem onde se avista o Promontório e o mar com diversas embarcações.

Em cartela central de fundo amarelo, reproduzem-se os seguintes versos assinados por Maria de Portugal:

“Senhora da Nazareth
Ajude o mar a ter fé,
Ensine a onda a resar:
Olhe, as mães dos pescadores
Já sofreram tantas dores,
Precisam de descançar”

No lado inferior direito, lê-se “Fca Battistini de Maria de Portugal”.

“Maria de Portugal” é o pseudónimo de Albertina dos Santos Leitão (1884-1971), pintora e ceramista discípula de Leopoldo Battistini (1865-1936), artista de origem italiana, grande impulsionador da fábrica de Cerâmica Constância, em Lisboa (Lapa). Após a sua morte, Maria de Portugal tornou-se sua proprietária e assumiu a direção artística, passando a fábrica a ostentar o nome de “Fábrica Battistini de Maria de Portugal”.

O Museu Dr. Joaquim Manso está instalado na antiga casa de veraneio do Dr. Joaquim Manso (1878-1956), escritor e jornalista, fundador do “Diário de Lisboa”. Construída no Sítio da Nazaré, na 1ª metade do séc. XX, em 1968 moradia é oferecida ao Estado para aqui instalar o Museu da Nazaré, pelo benemérito nazareno e empresário da construção civil Amadeu Gaudêncio (1889-1980).

Rapa "Praia do Norte"














Rapa "Praia do Norte" (miniatura)
Augusto Sabino, s.d.
MDJM inv. 948 Etn.


Durante este mês, no Museu Dr. Joaquim Manso, revive-se a memória da pesca artesanal da Nazaré, através do destaque dado a uma Rapa.

Este tipo de embarcação resulta da evolução e adaptação da traineira, praticando, à semelhança desta, a pesca com rede de cerco.

Regista-se a utilização de lancha auxiliar e de outro equipamento tecnológico mais moderno, nomeadamente casa de motor, rádio, radiogoniómetro, luzes avisadoras, entre outros.

Esta miniatura corresponde ao original na construção, decoração, denominação e matrícula.

Repare-se na sua denomição “Praia do Norte”, hoje tão em voga pela atração dos surfistas pelas grandes ondas, durante o inverno.

"Tacoa", de F. Lino




















Fernando Lino
Tacoa, s.d.
Técnica mista sobre papel
Aquisição pelo MDJM, 1984
MDJM inv. 117 des.

Na Nazaré, todos se lembram da “Tacoa”.
Rosária Meca Tacoa, filha do marítimo José Veríssimo Tacoa e da peixeira Maria da Soledade Meca, nasceu em 10 de dezembro de 1929, na Nazaré. 

Figura bastante conhecida nesta vila, a Tacoa distinguia-se, sobretudo, pelo seu traje regional, modesto, pardacento e já muito gasto. Um velho chapéu sobre a capa reforçava um tipicismo próprio, que os turistas não perdiam a oportunidade de fotografar e filmar.

Pelo seu linguarejar brejeiro, onde não faltavam as pragas, era considerada como alguém que “não tem o juízo todo”, ideia que ela vivamente rejeitava, afirmando: “eu não sofro da cabeça! Dão-me é ataques epiléctricos no coração”! 

Com oito anos, trabalhava já numa padaria e, mais tarde, até 1957/58, numa fábrica de conservas de peixe.
Em 1966, casou com o pescador José Pai João, de quem enviuvou em 1982.
Uma das facetas, talvez a mais desconhecida da Tacoa, era a sua facilidade de versejar. 

Em junho, o Museu Dr. Joaquim Manso destaca esta "figura" da Nazaré, através de um trabalho popular de Fernando Lino, que chegou a ser desenhador do Museu.
Esta é também uma oportunidade de a relembrar através da criatividade das crianças do 3º ano do Agrupamento de Escolas da Nazaré, que virão ao Museu, no dia 6 de junho, expor os seus trabalhos do projeto "Salpicos", baseados em representações da Tacoa.


Desenho de Stuart Carvalhais













Stuart Carvalhais (1887–1961)
Sem título, s.d
Tinta-da-China
MDJM inv. 100 Des.


Trabalho a tinta-da-China, onde um bando de perús é encaminhado por um homem com uma vara, num dirigismo satirizado.

A arte da sátira gráfica desenvolve-se na Europa a partir dos finais do século XVIII. Em Portugal, regista-se um incremento deste tipo de crítica com o liberalismo, no século XIX.
Neste mundo de irreverência e humorismo, onde há uma convivência entre o riso, a sátira e a caricatura, destaca-se, entre outros, Stuart Carvalhais, autor de figuras e tiras de banda desenhada como “Quim e Manecas”, a série mais longa com cerca de 500 episódios (entre 1915 e 1953), cujo conteúdo é enriquecido através de uma ponte com a realidade social e política do país.

Stuart Carvalhais, com Christiano Cruz, Almada Negreiros e Jorge Barradas, entre outros, fundaram também a sociedade de humoristas “vid'airada” e o jornal “Sátira” (1911).

José Herculano Stuart Torrie de Almeida Carvalhais, mais conhecido por Stuart Carvalhais, filho de pai português e mãe inglesa, nasceu na zona do Douro.
Artista multifacetado, distinguiu-se como pintor, desenhador, ilustrador, caricaturista e autor de banda desenhada, dedicando-se também à fotografia, cenografia e cinema.

Viveu a sua primeira experiência nos jornais como repórter fotográfico. É  n' “O Século” que publica os primeiros desenhos, em 1906, iniciando o trabalho de banda desenhada no ano seguinte.
Vivendo em Paris em 1912 – 1913, integra também neste período a I e a II Exposição dos Humoristas Portugueses.
Em 1914, colaborou no jornal satírico “Papagaio Real”, então sob a direção de Almada Negreiros.
Casado com a varina Fausta Moreira, de quem teve um filho, Raul Carvalhais.

Joaquim Manso (1878-1956), patrono deste Museu instalado na sua moradia de veraneio na Nazaré, era próximo destes artistas portugueses, sendo as páginas do jornal que dirigia - “Diário de Lisboa” - o suporte para divulgação de muitas das suas iniciativas e ideias. 
É através da sua coleção, por doação do filho Pedro Manso Lefèvre em 1977, que este trabalho de Stuart de Carvalhais vem integrar o espólio do Museu da Nazaré, a par de outros trabalhos, deste e de outros artistas desta geração.

Consulte este desenho no MatrizNet.

Em destaque em abril


Roberto Araújo (1909 – 1969)
Sem título, s.d. 
Tinta da china sobre papel
Oferta de Pedro Manso Lefévre, 1977
MDJM inv. 99 Des.


No mês em que se comemoram os 40 anos da “Revolução dos Cravos”, ocorrida a 25 de abril de 1974, o Museu Dr. Joaquim Manso seleciona do seu espólio, como “Objeto do mês de abril”, um emblemático desenho de Roberto Araújo.

Pintor  e  ilustrador,  aluno  da  Escola  de  Belas  Artes  de  Lisboa  e  de cenografia  no Conservatório  Nacional  de  Teatro,  Ricardo  Araújo  foi  autor de  cenários  e  decorações para várias companhias de teatro e filmes, como “O Pai Tirano” e o “Pátio das Cantigas”, depois  de  se  ter  iniciado  com  a peça  “Divórcio”,  de  Ilda  Stichini,  em  1933. 
Em  1934, ganha o 1º Prémio de Ilustração num concurso da Junta de Educação Nacional e, como bolseiro,  visita  Espanha,  Bélgica  e  Alemanha. Foi  professor  na  Escola  de  Artes Decorativas António Arroio.

Casa­-se em 1931, pelo registo civil, com a filha de César Porto, Manuela Porto (1912­-1950), colaboradora do jornal “Diário de Lisboa” (fundado por Joaquim Manso).

Herdeiro dos pais, Araújo Pereira e Emília de Araújo Pereira, da crítica oposição à situação política e cultural vigente, teve uma postura ativa contra o regime de Salazar, sendo muitas das suas obras protestos contra as medidas tomadas pela ditadura.

Ainda  que  se  desconheça  a  justificação  inicial  da sua produção, destinando-se porventura  a  um  fim  ilustrativo  ou  cenográfico, o desenho agora  em  destaque aproxima­-se deste intento de protesto pela conjuntura política em que Portugal se encontrava,  evocando  um  grito  de revolta  e  tentativa  de  libertação,  que  nos  remete ainda para a célebre pintura de Eugène Delacroix, “A Liberdade Guiando o Povo” (1930), inspiradora da  consequente  iconografia  republicana  de  vários  países, incluindo  da portuguesa.

Desenvolvido  em  composição  triangular,  constituída  por  quatro elementos femininos, uma  figura  central  em  segundo  plano  está  de  pé,  usando barrete  republicano  e direcionando  a  cabeça  para  o  lado  esquerdo.  À sua  frente,  apoia-­se  outra  figura feminina, com um dos seios descobertos, de braços erguidos ao alto, com uma algema em  cada  punho.  Em  plano inferior  e  ladeando  as  figuras  centrais,  estão  duas  figuras sentadas, que olham  para  cima.  A  da  esquerda  ostenta  uma  espada  com  ambas  as mãos.

Do círculo de convívio de Roberto Araújo faziam parte Almada Negreiros, Thomaz deMello,  Abel  Manta,  Sena  da  Silva,  entre  outros.  Recordemos que  a  esposa  foi colaboradora  do  “Diário  de  Lisboa”  e  seriam  também próximos  do  jornalista  Joaquim Manso.  É através do filho deste, Pedro Manso Lefèvre, que este trabalho é doado em 1977  a  este  Museu,  de  que o  escritor  é  patrono,  por  ter  sido  na  sua  residência  de veraneio que se viria a instalar o tão ansiado Museu da Nazaré.


Tragédia Marítima


Henrique Moreira (1889 - 1979)
Tragédia marítima, 1941
Bronze, alt. 35,5 cm
MDJM inv. 4 Esc.


Grupo escultórico, de grande carga emotiva, evocando a “tragédia marítima” de um naufrágio. 

Sobre um homem desfalecido na praia, gesticulam duas mulheres envoltas em capas largas e lenços na cabeça, uma de joelhos com o braço esquerdo erguido sobre a cabeça virada ao alto, como que gritando, e a outra debruçada sobre o corpo, abraçando-o, como que o chamasse à vida.
Esta composição, repleta de dramatismo, revela o forte sentimento de perda, comum a todas as mulheres desta terra de pescadores – a Nazaré.

Peça oferecida pelo artista ao Museu Dr. Joaquim Manso, em 1975, associando-se a outras duas esculturas de temática piscatória, nomeadamente “Pescador cosendo redes” e “Puxando as redes”.

Mais informação em MatrizNet.

Festejando o São Brás














Festejando o São Brás, 1979
MDJM inv. 43-2-4 Fot.


“O Carnaval é um folguedo. Pois folgamos todos. E quando chega a festa do S. Brás, em três de Fevereiro logo a brincadeira começa. Qualquer pretexto serve para as pessoas se refugiarem no esquecimento”.

Alves Redol



Num dos festejos populares mais genuínos, no dia 3 de Fevereiro, as gentes da Nazaré sobem ao Monte de São Bartolomeu ou Monte de São Brás, lugar místico associado à Lenda de Nossa Senhora da Nazaré e onde se situa a pequena ermida caiada de branco, tradicionalmente com três imagens sobre singelo altar: Nossa Senhora das Candeias (2 de Fevereiro), São Bartolomeu e São Brás (3 de Fevereiro), este último orago da capela.

Dizem que vão pagar as suas promessas. Antigamente, as mais evidentes eram as das raparigas solteiras, que levavam uma telha para a capela, para serem bafejadas com a sorte de arranjar um namorado e assim casar.

Mas, sobretudo, para os nazarenos, esta é a festa que marca o início oficial da folia carnavalesca, num crescendo de animação até à semana do Entrudo. Crianças e adultos, todos envergam os seus trajes tradicionais ou vão mascarados (“ensaiados”) com coisas que vão buscar às arcas, num “traje trapalhão”.

Antes a pé, hoje mais de carro, é de ver os “romeiros” com os cestos de comida para fazerem os seus piqueniques, no sopé do monte. Do “farnel” constam carnes de porco para grelhar, chouriço, morcela de arroz e toucinho. Os antigos costumavam levar sardinhas salgadas, que comiam com broa, tradição mantida por alguns. Assim como não pode deixar de faltar o garrafão de vinho, para animar…

Assim que se chega ao pinhal, há que procurar lenha para se fazer a fogueira e preparar a merenda. Por fim, depois de “bem comidos e bem regados”, salta-se a fogueira, juntam-se vários grupos e começa o bailarico com instrumentos improvisados, hoje substituídos por banda musical contratada.
É aqui que, mais recentemente, também se faz a primeira apresentação dos Reis do Carnaval.

Antes da partida, na feira que sempre se organiza, os foliões compram pinhões e enfiadas de maçã seca, que são curadas no fumeiro e que as raparigas vaidosamente ostentavam como colares ao pescoço.

O regresso era feito em grupo, a cantar de alegria. A festa era continuada nas tabernas. Hoje, fica-se no pinhal ou na rua até ao limite do cansaço.

Agora todos têm que se preparar… porque o Carnaval está à porta!


Guilherme Filipe, "Mulher da Nazaré"




















Guilherme Filipe
Mulher da Nazaré, 1940
Woman of Nazaré
Óleo sobre tela | Oil on canvas
MDJM inv. 142 Pint.


Guilherme Filipe (1897, Pampilhosa da Serra – 1971) foi considerado por Tomás Ribas o “pintor das paisagens e gentes da Nazaré”.

Desde novo, manifestou a sua vocação para a pintura. Aluno da Escola de Belas-Artes de Lisboa, frequenta também cursos livres na Sociedade Nacional de Belas-Artes e os ateliers de Malhoa e Conceição Silva.
Após uma permanência de seis anos em Madrid, onde participa em várias exposições e tertúlias com personalidades importantes na área da cultura, regressa a Portugal e instala-se em Coimbra. O poeta Eugénio de Castro proporciona-lhe um atelier na Faculdade de Letras e, em 1923, realiza a primeira exposição individual, mudando-se mais tarde para Lisboa.

A sua relação com a Nazaré intensifica-se em meados dos anos 1930, aqui colhendo os motivos das suas pinturas relacionadas com a labuta diária desta vila piscatória. Relaciona-se com outros artistas e intelectuais que frequentavam a Nazaré, integrando a comissão organizadora da primeira Festa do Mar (Setembro 1939), na qual colaboraram Afonso Lopes Vieira, Joaquim Manso, Hipólito Raposo e Almada Negreiros.

Sonhando com “uma galeria de arte, onde pintores vindos de fora, de toda a parte, encontrariam abrigo e um local amplo e adequado às exposições das suas obras” (Borges Garcia, O Museu da Nazaré, 1976), Guilherme Filipe foi um elemento ativo na organização de um Museu da Nazaré, integrando o seu primeiro “Grupo de Amigos” (1969).

São várias as obras deste autor que integram a coleção do Museu Dr. Joaquim Manso: dois retratos do seu patrono, de quem também foi amigo, e outras relacionadas com a “Vida da Nazaré”.

É exemplo este óleo “Mulher da Nazaré” (1940), representando Maria Santana Vigia Chiquito (c.1923-c.1951), filha de Ana Vigia e José Chiquito, uma jovem costureira nazarena por quem o pintor se apaixonou e teve uma relação durante sete anos, enquanto vivia entre a Nazaré e Lisboa. 
Após o término do relacionamento, Maria Santana acaba por casar com Jacinto Mafra, com quem tem um filho nascido em 1949 – António Manuel Vigia Mafra. Vítima de doença, Maria Santana morre muito jovem, com cerca de c. 27 anos.

Mais informação sobre o autor em MatrizNet (clique)

(informação sobre a retratada fornecida por António Manuel Vigia Mafra, outubro 2013).


Guilherme Filipe (1897 Pampilhosa da Serra - 1971) was considered the “artist of the landscape and people of Nazaré" by Tomás Ribas.

From an early age, he showed a natural gift for painting. He attended the School of Fine Arts of Lisbon, some free courses at the National Society of Fine Arts and the studios of Malhoa and Conceição Silva painters. 
After a six-year stay in Madrid, where he participated in various exhibitions and salons with famous people of culture, he returned to Portugal and settled in Coimbra.  In this city, the poet Eugénio de Castro gave him a studio at the Faculty of Letters and, in 1923, he held his first solo exhibition, moving later to Lisbon.

His connection to Nazaré intensified in the mid-1930s, acquiring here his painting motifs related to the daily labor of this fishing village. He linked to other artists and intellectuals who came to Nazaré, joining the organizing committee of the First Sea Festival in September 1939, in which collaborated Afonso Lopes Vieira, Joaquim Manso, Hipólito Raposo and Almada Negreiros.

Dreaming of "an art gallery, where artists coming from everywhere, would find a shelter and a large and appropriate place for the exhibition of their works" (Borges Garcia, "O Museu da Nazaré", 1976), Guilherme Filipe was an active element in the organization of the Museum of Nazaré, incorporating his first "Group of Friends" (1969).

Several works of this author integrate the collection of the Museum Dr. Joaquim Manso: two portraits of Dr. Joaquim Manso, who was his friend, and other paintings related to the “daily life of Nazaré ", which is the example of the exhibited oil "Woman of Nazaré" (1940), representing the young dressmaker Maria Santana Vigia Chiquito (c.1923-c.1951), to whom he fell in love and had a seven-year relationship.