Em destaque em abril


Roberto Araújo (1909 – 1969)
Sem título, s.d. 
Tinta da china sobre papel
Oferta de Pedro Manso Lefévre, 1977
MDJM inv. 99 Des.


No mês em que se comemoram os 40 anos da “Revolução dos Cravos”, ocorrida a 25 de abril de 1974, o Museu Dr. Joaquim Manso seleciona do seu espólio, como “Objeto do mês de abril”, um emblemático desenho de Roberto Araújo.

Pintor  e  ilustrador,  aluno  da  Escola  de  Belas  Artes  de  Lisboa  e  de cenografia  no Conservatório  Nacional  de  Teatro,  Ricardo  Araújo  foi  autor de  cenários  e  decorações para várias companhias de teatro e filmes, como “O Pai Tirano” e o “Pátio das Cantigas”, depois  de  se  ter  iniciado  com  a peça  “Divórcio”,  de  Ilda  Stichini,  em  1933. 
Em  1934, ganha o 1º Prémio de Ilustração num concurso da Junta de Educação Nacional e, como bolseiro,  visita  Espanha,  Bélgica  e  Alemanha. Foi  professor  na  Escola  de  Artes Decorativas António Arroio.

Casa­-se em 1931, pelo registo civil, com a filha de César Porto, Manuela Porto (1912­-1950), colaboradora do jornal “Diário de Lisboa” (fundado por Joaquim Manso).

Herdeiro dos pais, Araújo Pereira e Emília de Araújo Pereira, da crítica oposição à situação política e cultural vigente, teve uma postura ativa contra o regime de Salazar, sendo muitas das suas obras protestos contra as medidas tomadas pela ditadura.

Ainda  que  se  desconheça  a  justificação  inicial  da sua produção, destinando-se porventura  a  um  fim  ilustrativo  ou  cenográfico, o desenho agora  em  destaque aproxima­-se deste intento de protesto pela conjuntura política em que Portugal se encontrava,  evocando  um  grito  de revolta  e  tentativa  de  libertação,  que  nos  remete ainda para a célebre pintura de Eugène Delacroix, “A Liberdade Guiando o Povo” (1930), inspiradora da  consequente  iconografia  republicana  de  vários  países, incluindo  da portuguesa.

Desenvolvido  em  composição  triangular,  constituída  por  quatro elementos femininos, uma  figura  central  em  segundo  plano  está  de  pé,  usando barrete  republicano  e direcionando  a  cabeça  para  o  lado  esquerdo.  À sua  frente,  apoia-­se  outra  figura feminina, com um dos seios descobertos, de braços erguidos ao alto, com uma algema em  cada  punho.  Em  plano inferior  e  ladeando  as  figuras  centrais,  estão  duas  figuras sentadas, que olham  para  cima.  A  da  esquerda  ostenta  uma  espada  com  ambas  as mãos.

Do círculo de convívio de Roberto Araújo faziam parte Almada Negreiros, Thomaz deMello,  Abel  Manta,  Sena  da  Silva,  entre  outros.  Recordemos que  a  esposa  foi colaboradora  do  “Diário  de  Lisboa”  e  seriam  também próximos  do  jornalista  Joaquim Manso.  É através do filho deste, Pedro Manso Lefèvre, que este trabalho é doado em 1977  a  este  Museu,  de  que o  escritor  é  patrono,  por  ter  sido  na  sua  residência  de veraneio que se viria a instalar o tão ansiado Museu da Nazaré.


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