Banda Infernal do Sítio
Foto Laborinho, 1965
MDJM inv. 3232 Fot.
“E os grupos cruzam-se, as bandas infernais surgem de todos os cantos, irrequietas, subindo e descendo, parando para bailar, bailando para cantar, bailando para esquecer – ah amigos! – esquecendo para sofrer, sofrendo para comer, e sempre vivas, exuberantes, vozes como pendões, até às tantas, como se quisessem rir e cantar até à loucura. O espectáculo é para eles – esquecer e desabafar.”
Alves Redol, in A Nazaré na obra de Alves Redol, MDJM, 1980
Bandas Infernais
As bandas infernais são uma das vertentes mais caraterísticas do Carnaval da Nazaré e a sua origem deve remontar aos princípios do século XX.
A origem
Segundo José Maria Pequicho (n. 1935), atual maestro da Filarmónica da Nazaré, a denominação “Banda Infernal” provém do nome da música/marcha tocada nas manhãs do Domingo Gordo.
Permanece ainda na memória o Silvestre dos “Bichinhos”, siteiro que morava na “Rua de Cima” e que aparecia no domingo de Carnaval, de madrugada, percorrendo as ruas, a tocar pífaro, entoando uma determinada música conhecida por “marcha infernal”. Nos anos seguintes, foram-se juntando a ele outras pessoas (apenas homens), também elementos da Banda Nazarense, do Sítio, que, com outros instrumentos, aperfeiçoaram a música.
Esta banda percorria as ruas do Sítio e da Praia, tocando o refrão daquela marcha. Só desenvolvia a composição musical, conhecida por “hino”, quando as pessoas ofereciam alguma moeda. Se o donativo fosse substancial, tocava o “hino” duas vezes. O grupo passou a ser conhecido por “banda infernal”, estando na origem das actuais “bandas infernais” (cerca de 18).
Se, primitivamente, a “banda infernal” utilizava instrumentos musicais, os grupos seguintes, sobretudo os da Praia, recorriam a outros objetos para “fazer barulho” e atingir o principal objetivo: acordar a população, convidando-a para a festa.
Formadas principalmente por homens, havia também “bandas infernais" mistas, compostas por homens, mulheres e crianças. Na generalidade, eram de formação espontânea. Os “ensaiados” (mascarados) reuniam-se em grupos que, munidos de bombos, tachos e panelas velhas, tudo faziam para provocar barulhos estridentes e ensurdecedores.
Na atualidade
Este costume prolongou-se até aos nossos dias, adquirindo uma expressiva movimentação social. Em formações separadas (masculinas e femininas), mas já com uma certa organização, as bandas passaram a ser conhecidas pela denominação, vestes e músicas, surgindo um salutar espírito de competição que anima o período anterior à semana de Carnaval.
A mulher adquire, agora, um papel predominante e confere às bandas um novo “visual”, mais cor e fantasia, substituindo tachos e panelas por tarolas, pandeiretas e outros instrumentos musicais.
Cada “banda infernal”, em reuniões sucessivas, concebe um figurino (confecionado pelos próprios elementos ou por costureiras locais e para cerca de 3 anos ) e elabora a sua marcha com letra satírica inspirada na realidade nazarena. Um mês antes do Carnaval, as marchas de todas as “bandas infernais” e grupos carnavalescos são publicamente anunciadas e divulgadas, incentivando a população até ao Entrudo.
Chegada a manhã do Domingo Gordo, as ruas do Sítio, da Praia e Pederneira enchem-se finalmente das “bandas infernais”. Vestidas a rigor, é então o tempo de desfilarem, cantando e dançando, para divertimento de toda a Nazaré. Como concluiu o escritor Alves Redol, “O Carnaval é folguedo, pois folguemos todos”!
Ouvir / Ver
Músico: José Maria Mota Pequicho
Nasceu na Nazaré, a 28 de Fevereiro de 1935. Aprendeu música na Banda Nazarense, aos 7 anos, e começou a tocar trompete aos 15 anos. Formou a Banda do Planalto, depois Banda D. Fuas Roupinho e, actualmente, Filarmónica da Nazaré onde é maestro.
Gravação 26 Janeiro 2012, Museu Dr. Joaquim Manso.
Ler mais "Objeto Mês de Fevereiro 2011" (Marchas e São Brás) e "Objeto Mês de Fevereiro 2010" (Grupo Carnavalesco).
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