Coelho da Silva (Paredes, 1909-Nazaré, 1995)
Sinal à barca, s.d
Aguarela sobre papel
MDJM inv. 26 Pint.
(clic na imagem)
A pintura “Sinal à barca”, do pintor naïf nazareno Coelho da Silva (1909-1995), ilustra um processo tradicional de comunicação noturna entre o mar e a terra, utilizado pelos pescadores da Nazaré, através de sinais de luz, transmitidos reciprocamente pelo mestre da embarcação e o “velho de terra”.
Quando ainda não existiam os atuais sistemas, a comunicação era feita através de archotes ou fogachos, cuja manipulação, em gestos diferenciados (na vertical, em círculo, …), identificava o proprietário da embarcação (tipo traineira) que estava a fundear nas “Bóias” (espaço marítimo com profundidade e condições adequadas a esse efeito, onde era raro o assoreamento e, mesmo com o “mar ruim”, as ondas não quebravam).
Na praia, um elemento da companha, normalmente o “velho de terra”, confirmava a sua visualização, respondendo com a emissão dos mesmos sinais.
Para facilitar as manobras de saída do mar da barca auxiliar, que fazia o transporte de homens e pescado até terra, era então necessário preparar a colocação dos panais (estrados de madeira), devidamente “ensebados”, e o “engate” das juntas de bois, que puxavam a barca para “o topo”, ou seja, para o areal.
Em noites escuras, ou quando o mar estava "mexido", a luz emitida por este meio serviria também para orientar a embarcação durante o “encalhar”.
"Muro dos Sinais", no Sítio Charlotte E. Pauly, início anos 1930 (col. particular) |
Através de fotografias da artista alemã Charlotte E. Pauly (1886-1981), que viveu temporariamente na Nazaré no início dos anos 1930, chega-nos a memória da existência de outra forma de comunicação para a pesca diurna, através de pintura mural.
No topo do miradouro do Promontório, existia um muro onde estavam pintados sinais correspondentes às diversas embarcações (tipo galeão). Quando os barcos iam “pró mar”, o respetivo “velho de terra” ia-se sentar no enfiamento do seu sinal, de onde tinha maior alcance de visão, mesmo sobre a Praia do Norte. Após a “rede ter feito o cerco”, e quando o barco (que navegava a remos com uma campanha de 20 a 30 pescadores) vinha a caminho das “Bóias”, o “velho de terra” fazia sinal para a praia, a dizer quantas barcas auxiliares eram precisas “varar ao mar” para efetuar o transporte do pescado entre o galeão e a terra.
Este tipo de comunicação terá desaparecido a partir dos anos 1940, acompanhando o abandono dos galeões a favor da pesca da traineira e noturna, sendo agora a fotografia e a pintura daquela artista alemã o pretexto para se recuperar junto de antigos pescadores um “saber-fazer” praticamente esquecido.
Em novembro, visite a exposição "Do mar para terra. Formas de comunicação", que enquadra o "Objeto do Mês", com a colaboração da Capitania do Porto da Nazaré e do fotógrafo Zé Batista.
No dia 15 de novembro, no âmbito das comemorações do Dia Nacional do Mar, decorrerá a tertúlia "Do mar para terra. Formas de comunicação" (ler mais).
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