Álvaro Laborinho (1879-1970)
Grupo Carnavalesco, 1907
MDJM Inv. 861 Fot.
Na Nazaré, o mês de Fevereiro é indissociável do Carnaval.
Esta fotografia lembra esta “festa” vivida intensamente pela população da Nazaré. As máscaras e os disfarces são um dos meios utilizados para extravasar a euforia que anima o tempo carnavalesco. Todos podem ser o que quiserem!
Os primeiros sinais desta festa cíclica surgem durante as festividades em honra de Santo Amaro (Alfeizerão, 15 de Janeiro), onde já participam grupos de nazarenos “ensaiados” (mascarados).
No dia de S. Brás (3 de Fevereiro), em romaria ao Santo do mesmo nome, a população desloca-se ao Monte de S. Bartolomeu, também conhecido por Monte de S. Brás e, aí, acendem-se fogueiras, assam-se chouriços, organizam-se almoços, sobe-se à capelinha e, num espírito de folia, vive-se uma “festa” onde o profano prevalece sobre o sagrado.
No tempo seguinte, fazem-se os preparativos para festejar o “Santo Entrudo”: escrevem-se músicas, letras e “cegadas” cheias de ironia, humor e sentido crítico; escolhem-se fantasias e trajos; estudam-se coreografias; constroem-se carros alegóricos, enfeitam-se as salas de baile das várias associações recreativas e têm lugar os primeiros bailes de máscaras.
Chega o Carnaval. Foliões e ensaiados aglomeram-se nas ruas da Nazaré. Ao domingo, ruidosas bandas infernais a todos acordam; carros alegóricos, bandas, marchas, grupos e ranchos carnavalescos desfilam em cortejo pelas ruas da vila. Animam-se as gentes. Enchem-se as salas de baile, dança-se, canta-se, brinca-se. Quebram-se regras e normas. Invertem-se valores. Todos podem ser o que quiserem …
A meio da noite, é a vez das “cegadas” se exibirem nos bailes, ridicularizando, de forma mordaz, algumas situações socio-políticas da localidade.
Na tarde de Quarta-feira de Cinzas, por entre queixas, choradeiras e zombarias, faz-se, em simbólica cerimónia fúnebre, o “Enterro do Santo Entrudo”, que consiste no “incendiar” de um boneco no areal da praia ou, se esta iniciativa decorrer no Sítio, o “boneco em chamas” é atirado do Suberco.
É também neste dia que se assiste ao último baile, ouvem-se as “deixas”, que são críticas burlescas aos acontecimentos do Carnaval que termina.
E assim se vive o Carnaval nesta terra de pescadores. Ao longo do tempo, foram-se registando transformações e adaptações, algumas brincadeiras como as “caqueiradas” e o “talim-talão” foram sendo substituídos ou esquecidas; nas bandas infernais, as tampas, panelas e tachos deram lugar às tarolas e pandeiretas, …
No entanto, ontem como hoje, o Carnaval vive-se “animado, folião e de larga expansão de alegria popular durante três dias”, evidenciando que a Nazaré é uma terra de contrastes – de abundância ou de fome, de cores garridas ou do negro cerrado do luto, da tristeza ou do excesso que caracteriza o tempo de Carnaval.
Saiba mais sobre o Carnaval nazareno em A Biblioteca sugere.
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