Zagaia








Zagaia
Chumbo, século XX
Oferta de Maria Antónia Quinzico, 2009
MDJM inv. 1974 Etn.


A pesca do bacalhau faz parte das “história de vida” de muitos pescadores da Nazaré, quando a chamada “Frota Branca” enchia os mares do Norte e as partidas e chegadas aos portos portugueses eram momentos de grande emoção, vividos entre lágrimas e sorrisos, com a presença de muitos familiares. Normalmente, após meses nas longínquas campanhas, o regresso dos “bacalhoeiros” acontecia em Outubro e, na Nazaré, assinalava-se este acontecimento com o “Baile dos Bacalhoeiros”, a 5 de Outubro. 
Lembrando esse tempo, durante o mês de Outubro, o Museu Dr. Joaquim Manso destaca como objecto a pequena zagaia, aparelho de pesca utilizado na captura do bacalhau.

Na longa viagem, os pescadores iam preparando os aparelhos de fundo, as zagaias, os dóris (pequenos botes individuais) e todo o equipamento necessário à faina. As zagaias eram compostas por um pedaço de chumbo em forma de peixe, a que se ligava uma “seda” (fio de nylon) através de um olhal e, na outra extremidade, um anzol duplo. Os pescadores construíam as suas próprias zagaias, utilizando um molde para o chumbo derretido, onde se introduzia o anzol já comprado. A diferença entre as zagaias artesanais e as mais recentes (de compra) verifica-se na largura do chumbo e no olhal.
As zagaias eram utilizadas nos dóris, em situações especiais, como complemento e/ou substituição do aparelho de fundo. A técnica utilizada neste processo consiste em atrair o bacalhau, ou qualquer outro pescado, através do brilho do chumbo que lhe é conferido por raspagem de canivete. O pescador “zagaiava”, imprimindo um movimento de vaivém. Empregava-se quando o bacalhau andava “alvorado”, a “meia água”, “com comedia” (à procura de comida) e, vendo a zagaia, atirava-se, ficando capturado. Por outro lado, o aparelho de fundo, constituído por várias linhas e anzóis, era usado quando o pescado andava em águas mais profundas e era iscado com lulas.

Esta zagaia pertenceu a António Borges Barqueiro, nascido na Nazaré a 12 de Março de 1928, que a usou quando “andou ao bacalhau” no “Vimieiro” e no “Maria das Flores”, há cerca de 45 anos.


Nota: Informação recolhida a partir de entrevista a Rogério Barros Quinzico (Nazaré, 1954), que foi pescador do bacalhau durante cerca de 10 anos. Entrevista realizada em 15 de Setembro 2011, por Cecília Nunes e Deolinda Maria Brites.

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